Jornalismo Online

Reportagens desenvolvidas pelos estudantes do curso de Jornalismo da UCDB.





Busca

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Cineasta boliviano debate Povos Indígenas frente às Novas Mídias

Reconhecido com um prêmio na Itália por seus trabalhos com jovens, o cineasta boliviano Iván Molina falou, durante seminário em Campo Grande, no mês de março, de sua experiência ao ensinar indígenas do Brasil a produzir vídeos.

Molina é indígena da etnia Quéchua, formou-se na Escuela Internacional de Cine y TV San Antonio de Los Baños (EICTV), em Cuba. É diretor e professor da Escuela de Cine y Artes Audiovisuales de La Paz, Bolívia. Ele respondeu perguntas de estudantes e profissionais de Rádio e TV, Jornalismo, História e Filosofia, entre outros que se interessaram pelo debate.

Segundo Molina, o vídeo tem sido uma ferramenta poderosa para reafirmar a cultura indígena. “Muitos jovens não queriam ficar na aldeia e depois do vídeo eles dançavam, cantavam e queriam ser indígenas, queriam ser guaranis, porque puderam sentir que são importantes”, contou.

Ao fazer os vídeos, os índios querem assimilar a cultura do branco ou divulgar e fortalecer sua própria cultura? Em resposta a esta pergunta, feita por uma radialista, Ivan Molina afirmou que a mídia da América Latina não é democrática. “Vivemos muito errado. Vivemos uma ditadura midiática. O que é melhor? Os indígenas devem se perguntar e não nós que devemos nos perguntar por eles”.

Uma tendência da população não-indígena é acreditar que, ao utilizar as novas tecnologias ou morar nas cidades, o índio deixa de ser índio. Acreditam que este foi “civilizado”, perdendo seus referenciais étnicos e culturais. A pergunta da radialista, mostra que nem profissionais da área da comunicação fogem à esta quase regra. O professor, da etnia Kaiowá, Devanildo Ramires, falou como enxerga esta situação. “Quando um gaúcho vem morar aqui, se ele deixa de tomar chimarrão não significa que não é mais gaúcho. Assim também, o índio não deixa de ser um índio só porque tem celular e entra na Internet”, explicou.
Por Paula Vitorino

Fotos: Viviane Oliveira

Fazer parte da modernidade não é deixar de ser índio

Ao fazer os vídeos, os índios querem assimilar a cultura do branco ou divulgar e fortalecer sua própria cultura? Ainda passa pela cabeça de muita gente que o “verdadeiro índio”, vive nas selvas nus, pintados e praticam danças exóticas estranhas às danças do mundo não-indígena. Os povos indígenas não são seres do passado. São povos de hoje, querem ser vistos e ouvidos, mas não de maneira distorcida, como têm sido pelos meios de comunicação.

O acesso às tecnologias por parte dos indígenas, contribui para defenderem seus direitos e melhorarem suas condições de vida. Os índios estão cansados de serem retratados, e buscam como um princípio fundamental o direito de se autodefinirem, sem necessidade de abrirem mão de suas culturas, tradições, modos e filosofias de vida.

Por meio do vídeo, os índios estão, cada vez mais, se fortalecendo, superando a invisibilidade social, que é a principal causa da ignorância, preconceito e discriminação. Afinal de contas, o índio também é cidadão brasileiro com direito de acesso e ao usufruto dos benefícios da sociedade moderna.

As novas mídias, quando utilizadas pelos índios e direcionada para atender às suas necessidades atuais, pode ser um instrumento de fortalecimento das culturas e das identidades. Até porque a mídia sul-mato-grossense, no que diz respeito ao índio sempre destaca fatos extraordinários. Então como a imprensa não retrata o cotidiano da vida dessas populações, passa para a sociedade a imagem de que os indígenas vivem com muita violência, o que não é verdade.
Artigo de Viviane Oliveira