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quinta-feira, 22 de maio de 2014

Primeira edição da Parada Nerd une atrações e é sucesso de público na Capital

Kimberly Teodoro e Ana Paula Duarte

Jovens antenados em jogos, cultura japonesa, séries, características de uma tribo que já foi relacionada a uma imagem negativa, mas vem ganhando cada vez mais espaço entre os jovens e em Campo Grande não é diferente, como prova disso nos dias 17 e 18 de maio a Escola Paulo Freire abriu os portões para a Parada Nerd. 

Evento inédito que apostou em quase doze horas de entretenimento, em cada dia, exigiu planejamento. De acordo com o organizador do evento, Alex Tominaga, os eventos da cidade geralmente são voltados para um público específico, fãs de anime e vídeo game, a proposta da Parada Nerd é ampliar as atrações. “Nós quisemos trazer também para quem é fã de quadrinhos, RPG, cartas, mangás, séries, músicas, filmes e unificar tudo”.

Foto: Kimberly Teodoro

Os planos para realização da Parada Nerd em Campo Grande surgiram em 2008, de lá para cá a ideia ganhou maturidade, Oryan Ottoni, coorganizadora do evento contou que na época seus idealizadores ainda eram menores de idade e a falta de autonomia foi uma barreira para a conclusão do projeto na época. 

Ottoni é artista plástica e além de participar da organização também expôs suas obras voltadas para a cultura japonesa. Ela ressalta que um dos desafios de seu trabalho é a dificuldade que os traços de mangá têm em ser reconhecidos como arte. “Primeiro é achar que mangá não é cultura e isso começa na faculdade porque os professores não consideram uma obra de arte, para eles é um traço comercial”, diz.  

Foto: Ana Paula Duarte

Mariana Rocha Camisso, estudante de Artes Visuais, foi ao evento para conhecer e participar do desfile de moda japonês que aconteceu no domingo (18). Empolgada, conta que compôs o look do desfile baseado no que já tinha em seu guarda-roupas e usou o que aprendeu sobre cores na universidade para elaborar a maquiagem. Tanta animação vem da novidade “Sou de Três Lagoas e lá não tem nada disso”.


Foto: Kimberly Teodoro

Do ponto de vista empresarial, Abraão Rosa foi responsável por um dos stands da Parada Nerd, o administrador de uma das mais conhecidas lojas de games da capital sabe da importância do contato com os consumidores que estão sempre em busca das novidades e que um evento como esse é uma ótima oportunidade para essa interação. 


Fotos: Kimberly Teodoro

Emmanuel Merlotti, caricaturista que há 18 anos é referência da atividade em Campo Grande, montou um stand para atrair os interessados em caricatura, espaço aberto para mostrar suas habilidades e dar workshop, uma prévia do que será seu curso de caricatura. Se quiser saber mais sobre seu trabalho e técnica você confere a exclusiva aqui. 

Foto: Ana Paula Duarte

Convidados nacionais foram destaque durante o fim de semana. A escritora Ana Macedo, trouxe seu livro "Lágrima de Fogo", escrito  antes mesmo que ela terminasse o Ensino Médio. A história que começou com um sonho da própria autora, que não tinha grandes ambições na literatura na época, acabou sendo colocada em um blog e do blog acabou virando livro, sendo o mais vendido no Stand da Novo Século na Bienal de São Paulo  em 2012. "Eu sonhei com cenas muito soltas, mas as coisas acabaram surgindo e chegou um momento em que eu tinha oito volumes", conta Ana.

Lágrima de Fogo foi às lojas com o selo Novos Talentos da Literatura Brasileira, é o primeiro de uma série de oito livros, um livro do gênero fantástico lembrado muito pelos jovens com os livros da escritora J. K. Rowling e as clássicas aventuras de Harry Potter. Este gênero encanta adolescentes pelo mundo afora e Ana tem oportunidade de mostrar aos brasileiros sua maneira fantástica de contar história. "Normalmente quem publica livro no Brasil ou tem muito dinheiro, tem sorte ou corre atrás de patrocínio. Então, eu fui atrás de empresas pequenas e ofereci minhas propostas, a parte mais difícil foi publicar", explica Ana. "Esse livro vai ser publicado na íntegra no final deste ano, em dezembro.  Ele tem algumas cenas que foram cortadas, nada que tenha comprometido a história, mas são cenas que enriquecem muito a história", completa.

Fotos: Ana Paula Duarte

Gandalf, o cinzento. Lord Voldemort, Joel do game The Last Of Us e o principal vilão de 007 Skyfall estavam presentes em uma só pessoa, o dublador Luiz Carlos Percy, que emprestou a voz a todos eles. No domingo Percy foi o palestrante mais esperado. O universitário Rafael Pedroso compareceu aos dois dias de Parada Nerd e fala mais sobre o assunto no podcast a seguir.



De acordo com a organização, eram esperados 400 pessoas no primeiro dia de Parada Nerd e com otimismo 700 pessoas totalizando os dois dias, somente no evento criado no Facebook 580 confirmaram presença. Para ficar por dentro de como foi e quais foram as atrações do sábado confira este video. 

A habilidade de Emmanuel Merlotti para distorcer a realidade

Kimberly Teodoro e Ana Paula Duarte


O Emfocando estava na primeira Parada Nerd de Campo Grando e enquanto esperávamos para falar com a organização, que naquele momento estava ocupadíssima com os últimos preparativos antes de abrir os portões para o público que já começava a formar fila, quando uma figura simpática, de cabelos e olhos claros, casualmente vestido uma camiseta branca, jeans e tênis e que poderia muito bem ser uma de suas caricaturas nos cumprimenta com um bem humorado: “Vocês já estão esquentando lugar no meu stand desde cedo, hein?” É nada mais nada menos que o caricaturista Emmanuel Merlotti que tinha acabado de chegar para arrumar o espaço que ocuparia durante o evento.

Claro que nós não perdemos a chance de conversar com ele e em entrevista para o Em foco Online, Emmanuel falou sobre carreira, mercado em Campo Grande e aproveita também para divulgar o curso de caricatura em que vai pela primeira vez ensinar as técnicas adquiridas ao logo de 18 anos na profissão, e para a sorte das repórteres, além de suas palavras, o artista deu uma amostra do seu talento.




Qual o diferencial da caricatura?

A caricatura significa exagero, algo grotesco, exacerbado, então nós criamos em cima da pessoa, distorcemos a realidade, da mesma forma que uma pintura de Salvador Dalí, tem significado. Os grandes mestres, Van Gogh, Salvador Dalí, Picasso, são os primeiros caricaturistas, aquilo que ele fazia, cubismo, aquilo era caricatura pura. Então caricatura é o posto de tudo, oposto do real, é brincar com as formas, é claro que fica parecido com a pessoa, mas você também cria, que é diferencial das outras técnicas.

Quanto tempo leva para aperfeiçoar a técnica?

Para um desenhista, a vida inteira a gente vai ter que estudar para aprender, está relacionado à prática mesmo. Somos como atletas, o atleta se ele não treinar todo dia, ele não fica bom naquele esporte. O desenhista é a mesma coisa, quanto mais desenhamos, mais nosso traço se forma, o traço adquiri personalidade. Não dá para fazer uma caricatura boa na primeira tentativa, algumas caricaturas nós fazemos na hora, outras são mais elaboradas e precisam de vários esboços até chegar nesse resultado. Então é questão de prática, traço solto e ideias, você precisa praticar e desenhar arduamente várias horas por dia.

Para um aluno que não souber desenhar, mas se interessar pelo curso de caricatura, o que ele pode esperar aprender?

Não posso prometer que o aluno vai sair um desenhista. Eu trabalho com caricatura há mais 18 anos e é primeira vez que estou ensinando as minhas técnicas desenvolvidas ao longo da carreira, o aluno vai aprender as técnicas e praticar até desenvolver a própria técnica. Desenho não é difícil, qualquer pessoa que saiba a técnica consegue desenhar. Existem aquelas pessoas que já tem talento para isso, todo mundo desenha quando é criança, a diferença é que quando você segue desenhando é porque para seguir por esse caminho, nós seguimos desenhando, o Chico Caruso disse isso uma vez. É tudo questão de prática, o que o aluno aprender no curso, ele precisa continuar fazendo.

Do que as pessoas dependem para começar a desenhar?

É o interesse pelo desenho, a maioria dos alunos do curso de caricatura já desenham ou gostam de desenhar, porque desenho precisa de paciência, você passa horas sozinho praticando, é introspectivo e solitário.

Qual a reação das pessoas quando veem o trabalho pronto, tem quem não goste?

Eu costumo dizer o seguinte: Pergunta pra uma pessoa o que é uma caricatura, ela vai dizer que é aquele “desenhinho”, mas ela não sabe realmente o que é, e tem pessoas que vão ao estúdio para fazer caricatura e depois pedem para diminuir o nariz, a orelha, mas é uma caricatura, fazer isso seria incoerente. A maioria das pessoas querem fazer por onda, principalmente em casamento, que eu pego muito noiva que diz assim “a minha amiga fez, eu quero fazer também”, e aí muitas vezes ela não gosta, é a mesma coisa que você zoar todo mundo e aí a hora que eu zoar você, você não gosta. É uma questão muito cultural, infelizmente vivemos em um país em que a cultura é para poucos, a grande massa gosta de porcarias, as pessoas ainda não sabem o que é caricatura, não sabem que é uma arte, falando em modo geral.

Como é o mercado em Campo Grande?

Eu já sou bem conhecido, trabalho com Isso há muitos anos, eu ficava no shopping, participo de salão fora, já estou há muitos anos trabalhando com isso, faço muitos eventos, só que é a primeira vez que montei um estúdio, então agora além do nome que já tenho, também tem o espaço que a pessoa vai passar na frente e já ver “Estúdio de Caricatura”.
Eu vivo só disso, só que eu não conto só com Campo Grande, participo de bastantes eventos fora. O meu objetivo é tentar ganhar um salão grande e conseguir mídias lá fora, visibilidade nacional, o nosso mercado é muito complicado ainda, a pessoa vai até o estúdio sem saber o que é, mas para eu ter montado um estúdio é porque realmente tem respaldo, eu consigo sustentar o estúdio e ganhar um pouco, mesmo não ganhando rios de dinheiro, consigo sobreviver com a minha profissão. 

Em que os recursos tecnológicos agregam aos desenhos?

As pinturas a grande maioria são feitas no computador, mas o trabalho é feito a mão ainda, o trabalho original base, o desenho preto e branco eu faço a mão, o processo normal, digitalizo e aí é que vou pintar no computador, ela é finalizada no computador, mas é feito a mão ainda.
Eu acho que o computador ajuda bastante, quando preciso de uma referencia por exemplo é só buscar no Google. É prático, às vezes tem um cliente que mora do outro lado do Brasil e faz a caricatura comigo via internet, é uma maravilha da tecnologia.
No trabalho é uma técnica diferente, a técnica feita à mão ainda é mais valorizada, fazer uma caricatura, um desenho a lápis, uma pintura a óleo, é outra coisa, porque o trabalho feito ele é considerado original. Esse trabalho digital é possível fazer várias cópias e muitos artistas não consideram. Eu respeito, mas eu acho que é uma pintura como qualquer outra, não é o computador que faz isso, é você.

Mais informações sobre o trabalho do artista em: Emmanuel Caricaturas

O stand do caricaturista ficou logo na entrada do evento e despertou olhares das pessoas. (Foto: Ana Paula Duarte)