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quinta-feira, 22 de maio de 2014

A habilidade de Emmanuel Merlotti para distorcer a realidade

Kimberly Teodoro e Ana Paula Duarte


O Emfocando estava na primeira Parada Nerd de Campo Grando e enquanto esperávamos para falar com a organização, que naquele momento estava ocupadíssima com os últimos preparativos antes de abrir os portões para o público que já começava a formar fila, quando uma figura simpática, de cabelos e olhos claros, casualmente vestido uma camiseta branca, jeans e tênis e que poderia muito bem ser uma de suas caricaturas nos cumprimenta com um bem humorado: “Vocês já estão esquentando lugar no meu stand desde cedo, hein?” É nada mais nada menos que o caricaturista Emmanuel Merlotti que tinha acabado de chegar para arrumar o espaço que ocuparia durante o evento.

Claro que nós não perdemos a chance de conversar com ele e em entrevista para o Em foco Online, Emmanuel falou sobre carreira, mercado em Campo Grande e aproveita também para divulgar o curso de caricatura em que vai pela primeira vez ensinar as técnicas adquiridas ao logo de 18 anos na profissão, e para a sorte das repórteres, além de suas palavras, o artista deu uma amostra do seu talento.




Qual o diferencial da caricatura?

A caricatura significa exagero, algo grotesco, exacerbado, então nós criamos em cima da pessoa, distorcemos a realidade, da mesma forma que uma pintura de Salvador Dalí, tem significado. Os grandes mestres, Van Gogh, Salvador Dalí, Picasso, são os primeiros caricaturistas, aquilo que ele fazia, cubismo, aquilo era caricatura pura. Então caricatura é o posto de tudo, oposto do real, é brincar com as formas, é claro que fica parecido com a pessoa, mas você também cria, que é diferencial das outras técnicas.

Quanto tempo leva para aperfeiçoar a técnica?

Para um desenhista, a vida inteira a gente vai ter que estudar para aprender, está relacionado à prática mesmo. Somos como atletas, o atleta se ele não treinar todo dia, ele não fica bom naquele esporte. O desenhista é a mesma coisa, quanto mais desenhamos, mais nosso traço se forma, o traço adquiri personalidade. Não dá para fazer uma caricatura boa na primeira tentativa, algumas caricaturas nós fazemos na hora, outras são mais elaboradas e precisam de vários esboços até chegar nesse resultado. Então é questão de prática, traço solto e ideias, você precisa praticar e desenhar arduamente várias horas por dia.

Para um aluno que não souber desenhar, mas se interessar pelo curso de caricatura, o que ele pode esperar aprender?

Não posso prometer que o aluno vai sair um desenhista. Eu trabalho com caricatura há mais 18 anos e é primeira vez que estou ensinando as minhas técnicas desenvolvidas ao longo da carreira, o aluno vai aprender as técnicas e praticar até desenvolver a própria técnica. Desenho não é difícil, qualquer pessoa que saiba a técnica consegue desenhar. Existem aquelas pessoas que já tem talento para isso, todo mundo desenha quando é criança, a diferença é que quando você segue desenhando é porque para seguir por esse caminho, nós seguimos desenhando, o Chico Caruso disse isso uma vez. É tudo questão de prática, o que o aluno aprender no curso, ele precisa continuar fazendo.

Do que as pessoas dependem para começar a desenhar?

É o interesse pelo desenho, a maioria dos alunos do curso de caricatura já desenham ou gostam de desenhar, porque desenho precisa de paciência, você passa horas sozinho praticando, é introspectivo e solitário.

Qual a reação das pessoas quando veem o trabalho pronto, tem quem não goste?

Eu costumo dizer o seguinte: Pergunta pra uma pessoa o que é uma caricatura, ela vai dizer que é aquele “desenhinho”, mas ela não sabe realmente o que é, e tem pessoas que vão ao estúdio para fazer caricatura e depois pedem para diminuir o nariz, a orelha, mas é uma caricatura, fazer isso seria incoerente. A maioria das pessoas querem fazer por onda, principalmente em casamento, que eu pego muito noiva que diz assim “a minha amiga fez, eu quero fazer também”, e aí muitas vezes ela não gosta, é a mesma coisa que você zoar todo mundo e aí a hora que eu zoar você, você não gosta. É uma questão muito cultural, infelizmente vivemos em um país em que a cultura é para poucos, a grande massa gosta de porcarias, as pessoas ainda não sabem o que é caricatura, não sabem que é uma arte, falando em modo geral.

Como é o mercado em Campo Grande?

Eu já sou bem conhecido, trabalho com Isso há muitos anos, eu ficava no shopping, participo de salão fora, já estou há muitos anos trabalhando com isso, faço muitos eventos, só que é a primeira vez que montei um estúdio, então agora além do nome que já tenho, também tem o espaço que a pessoa vai passar na frente e já ver “Estúdio de Caricatura”.
Eu vivo só disso, só que eu não conto só com Campo Grande, participo de bastantes eventos fora. O meu objetivo é tentar ganhar um salão grande e conseguir mídias lá fora, visibilidade nacional, o nosso mercado é muito complicado ainda, a pessoa vai até o estúdio sem saber o que é, mas para eu ter montado um estúdio é porque realmente tem respaldo, eu consigo sustentar o estúdio e ganhar um pouco, mesmo não ganhando rios de dinheiro, consigo sobreviver com a minha profissão. 

Em que os recursos tecnológicos agregam aos desenhos?

As pinturas a grande maioria são feitas no computador, mas o trabalho é feito a mão ainda, o trabalho original base, o desenho preto e branco eu faço a mão, o processo normal, digitalizo e aí é que vou pintar no computador, ela é finalizada no computador, mas é feito a mão ainda.
Eu acho que o computador ajuda bastante, quando preciso de uma referencia por exemplo é só buscar no Google. É prático, às vezes tem um cliente que mora do outro lado do Brasil e faz a caricatura comigo via internet, é uma maravilha da tecnologia.
No trabalho é uma técnica diferente, a técnica feita à mão ainda é mais valorizada, fazer uma caricatura, um desenho a lápis, uma pintura a óleo, é outra coisa, porque o trabalho feito ele é considerado original. Esse trabalho digital é possível fazer várias cópias e muitos artistas não consideram. Eu respeito, mas eu acho que é uma pintura como qualquer outra, não é o computador que faz isso, é você.

Mais informações sobre o trabalho do artista em: Emmanuel Caricaturas

O stand do caricaturista ficou logo na entrada do evento e despertou olhares das pessoas. (Foto: Ana Paula Duarte)

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